Enquanto muito se discute para diminuir a
interferência do homem na natureza,
a China parece seguir no sentido contrário.
Nos últimos anos,
o país passou a adotar com frequência a
chamada chuva artificial,
que por meio de métodos científicos consegue
fazer chover em lugares de seca ou
eliminar nuvens.
Para isso, são lançados por meio de canhões em
terra ou aviões no ar
cartuchos de iodeto de prata, substância capaz de
acelerar a condensação das nuvens.
Foi dessa forma, por exemplo, que o governo evitou
que chovesse em pleno horário da festa de abertura
dos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008 - fez com que chovesse antes.
No mês passado, o governo chinês anunciou uma nova
iniciativa de manipulação do clima:
vai derreter neve para combater a falta de água
que afeta a capital do país.
Segundo o jornal chinês Global Times,
dois equipamentos com aquecedores
recolherão neve das ruas e das margens dos rios para
transformá-la em água.
Com uma população crescente de cerca de 20 milhões
de pessoas, o consumo de água na cidade foi de 3,55 bilhões
de metros cúbicos em 2009,
sendo que a oferta de água na região foi de apenas de 2,18 bilhões
de metros cúbicos.
Na opinião de Tércio Ambrizzi, professor do Departamento de
Ciências Atmosféricas
da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Grupo
de Estudos Climáticos (GrEC), a iniciativa pode acelerar o processo
de degelo natural, que já vem
ocorrendo cada vez mais cedo em vários lugares do mundo em razão
do aquecimento global.
"Sem conhecer todos os parâmetros, é difícil dizer quais serão as
consequências,
mas com certeza isso pode afetar quem depende da água do degelo
na época do verão", diz Ambrizzi.
Já o pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe),
não acredita que a nova iniciativa chinesa causará sérios
danos ao meio ambiente por um simples motivo: custa caro.
"É preciso muita energia para transformar a neve em estado líquido.
O método não poderá ser usado em grande escala", diz.
Mas mesmo Nobre admite que, se feita em grandes proporções,
a aceleração do degelo pode agravar a questão do aquecimento global.
Isso ocorre porque a neve das montanhas é fundamental para refletir a
radiação solar.
Quanto menos gelo, mais radiação é absorvida pela Terra e mais quente
fica o planeta.
"Mexer com o gerenciamento da radiação solar é muito perigoso", diz.
As iniciativas da China, segundo os dois especialistas, são na verdade
um exemplo claro da gravidade dos efeitos das mudanças climáticas
- no caso, intensas secas e problemas de abastecimento de água.
A própria adoção da chuva artificial pode ser um indicativo de uma
estratégia desesperada de buscar todas as alternativas para amenizar
esses efeitos.
"A chuva artificial foi desenvolvida nos Estados Unidos nos anos 50,
mas anos depois foi praticamente abandonada porque sua eficácia
não foi comprovada cientificamente", diz Nobre, que lembra que no
Brasil vira e mexe essa tecnologia também é usada. "É preciso ter
cuidado, porque há muitos charlatões nessa área."
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